A Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) publicou um edital com regras para a seleção de operadores de restaurantes e quiosques que funcionarão durante a COP-30, em Belém (PA). Entre os alimentos totalmente proibidos está o açaí. Entre restaurantes, quiosques e áreas privativas de comida, a COP terá 87 estabelecimentos, sendo 50 na Blue Zone e 37 na Green Zone.A entidade cita o “risco de contaminação por Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas), se não for…
A Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) publicou um edital com regras para a seleção de operadores de restaurantes e quiosques que funcionarão durante a COP-30, em Belém (PA). Entre os alimentos totalmente proibidos está o açaí. Entre restaurantes, quiosques e áreas privativas de comida, a COP terá 87 estabelecimentos, sendo 50 na Blue Zone e 37 na Green Zone.
A entidade cita o “risco de contaminação por Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas), se não for pasteurizado”, mas proibiu todos os tipos do alimento. Não só ele. Produtos artesanais sem rotulagem ou registro sanitário – como é o caso do caldo de cana, pelo qual também a doença de Chagas pode ser transmitida – também foram proibidos.
Em 2023, foram confirmados 4.560 casos de doença de Chagas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Há algumas décadas, era transmitido primordialmente por picada do inseto conhecido como barbeiro. Hoje, a transmissão via oral, por meio da alimentação, está por trás de 80% dos casos.
O problema do açaí não é o alimento em si, mas a forma de preparo. “A contaminação pode acontecer de duas formas”, afirma Odilson Silvestre, médico cardiologista no Hospital Silvestre Santé, no Acre, uma das referências no tratamento da doença. “O barbeiro pode estar no cacho do açaí. Ao ser moído, o inseto vai junto. Ou quando o preparo é feito à noite, e a luz atrai o barbeiro, que acaba saindo naquele suco que é preparado”, diz Silvestre.
Dados do Ministério da Saúde apontam que a maior parte dos casos de Chagas confirmados é no Pará, o maior produtor do alimento. Em 2023, foram 3.650 pacientes contaminados. Nos outros Estados, 293.
“No Pará há muita produção artesanal, sem fazer a pasteurização, além do hábito de comer a polpa e o suco crus”, diz Elzo Mattar, coordenador geral da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e cardiologista no Einstein Hospital Israelita.
CONSUMO SEGURO. Alimento tradicional principalmente no Norte do País, o açaí tem importante força também na economia. Anualmente, são produzidas cerca de 2 milhões de toneladas da fruta, a maior parte no Pará. Além do consumo local, ela é exportada para países como Estados Unidos, Japão, além da União Europeia.
Alguns cuidados importantes evitam a transmissão. “É consumir um produto que tenha procedência. A gente tem preferido o industrializado. A Embrapa tem um selo de qualidade”, diz Silvestre.
Mattar pontua que a transmissão da doença de Chagas por via oral causa um quadro mais sintomático e grave em comparação com a infecção pela picada do barbeiro. “O que justifica esse quadro exuberante é a maior carga parasitária presente no alimento”, diz.
Os primeiros sinais da contaminação lembram um quadro viral: febre, dor muscular intensa, dor de cabeça, inchaço no rosto (especialmente nas pálpebras), lesões avermelhadas na pele e, em alguns casos, inchaço nas pernas. Outros problemas são dor abdominal, náuseas, vômitos e até alterações cardíacas que podem ser fatais mesmo nesta fase.
O diagnóstico precoce é o melhor caminho para evitar complicações. A confirmação é feita com análises clínicas e exames de laboratório.