A temporada da Premier League começou com grandes expectativas, mas os números recentes revelam um cenário preocupante. Em 15 de agosto, o jogo de abertura entre Liverpool e um adversário não especificado atraiu 1,2 milhão de espectadores na Sky Sports, um número impressionante para uma sexta-feira à noite, superado apenas por alguns programas da BBC1 e ITV1. No entanto, o clássico entre Manchester United e Arsenal, transmitido em um Super Sunday, alcançou 2,1 milhões de…
A temporada da Premier League começou com grandes expectativas, mas os números recentes revelam um cenário preocupante. Em 15 de agosto, o jogo de abertura entre Liverpool e um adversário não especificado atraiu 1,2 milhão de espectadores na Sky Sports, um número impressionante para uma sexta-feira à noite, superado apenas por alguns programas da BBC1 e ITV1. No entanto, o clássico entre Manchester United e Arsenal, transmitido em um Super Sunday, alcançou 2,1 milhões de espectadores, liderando o fim de semana, segundo dados do especialista Liam Hamilton.
Apesar do bom desempenho de alguns jogos, a Premier League enfrenta desafios significativos. Um novo contrato de £6,7 bilhões até 2029 garante a transmissão de 267 partidas ao vivo por temporada, um número inédito. A Sky terá 215 jogos, um aumento de quase 70% em relação ao acordo anterior, além de manter um contrato de £935 milhões com a Liga Inglesa de Futebol.
No entanto, essa abundância de jogos esconde uma realidade preocupante: a Premier League está espremendo um modelo que parece estar se esgotando. O Telegraph reportou uma queda brutal no valor dos direitos domésticos, indicando que a liga não tem mais novidades para oferecer.
Queda no Valor dos Direitos de Transmissão
Um estudo recente da Omdia aponta para um cenário difícil para o futebol europeu. Após duas décadas de crescimento impulsionado pela TV paga, os direitos de transmissão entraram em um período de estagnação ou queda. O valor por partida transmitida nas cinco principais ligas diminuiu, e a Premier League é um exemplo claro dessa nova realidade.
O contrato de £6,7 bilhões até 2029 parece impressionante, mas £6,4 bilhões são para jogos ao vivo e apenas £300 milhões para destaques. Em termos reais, a Premier League arrecada 31% menos com direitos domésticos do que no ciclo 2016-19, o que representa uma perda de £765 milhões por ano. Essa queda ocorre mesmo com um aumento no número de partidas transmitidas, de 168 para 267 por temporada, o que reduziu o valor médio por jogo de £10,2 milhões para £6 milhões.
A audiência doméstica também está em declínio, com uma queda de 14% na média combinada da Sky Sports e TNT em 2024-25 em relação ao ano anterior. Nic Hamer, da Oakwell Sports Advisory, resumiu a situação:
“o crescimento atingiu o teto sob a atual estrutura. Nada no horizonte sinaliza mudança capaz de reverter a tendência“.
A Década que Mudou a Premier League
Para entender o momento atual, é preciso olhar para trás. Em 2016, o Leicester City conquistou um título improvável, seguido por três campeões diferentes em três temporadas consecutivas. Paralelamente, técnicos como Guardiola e Klopp elevaram o nível do futebol inglês. Em 1991-92, os clubes dividiram apenas £11 milhões em receita de TV, enquanto em 2016-17, a Premier League repartiu £1,73 bilhão anual.
No entanto, a expectativa de crescimento contínuo não se concretizou. A entrada da Amazon no mercado, comprando 20 partidas ao vivo por temporada, não causou a revolução esperada. O acordo da Amazon, de cerca de £20 milhões anuais, serviu mais para impulsionar o Prime Video do que para desafiar a Sky. Atualmente, a Amazon está fora das transmissões da Premier League.
“Pela primeira vez em sete anos, nenhuma Big Tech exibirá jogos da Premier League em 2025-26” – destacou Wigmore.
A BT Sport, agora TNT Sports, admitiu estar confortável como “forte número dois” no mercado britânico, o que permitiu à Sky gastar menos sem perder a hegemonia.
O Futuro da Premier League
Apesar dos desafios no Reino Unido, os direitos nos EUA ainda oferecem um alívio. A NBC Sports registrou uma média de 850 mil espectadores no fim de semana de abertura, um aumento de 4% em relação ao recorde anterior. O jogo entre Manchester United e Arsenal atraiu 2 milhões de espectadores, um recorde de estreia e a segunda maior audiência da história da liga no país.
Desde 2022, a liga arrecada mais fora do Reino Unido do que em casa, resultado de uma estratégia de expansão global com jogos agendados para diferentes fusos horários e atenção a mercados estratégicos. No entanto, analistas já preveem uma estagnação também no mercado internacional.
Mesmo com os direitos sob pressão, a Premier League continua líder em receitas, com os clubes faturando £6,3 bilhões em 2023/24. No entanto, o peso da TV diminui, representando 52% da receita, em comparação com 60% em 2016-17. A liga busca novas fontes de receita, como entretenimento corporativo e preços dinâmicos.
Nuno Moura, ex-negociador da UEFA, acredita que o futebol europeu atingiu o limite dos direitos de mídia:
“o sistema foi inflado além da realidade do mercado e do que a publicidade poderia bancar, e agora chegou a hora do acerto de contas“.
No final de 2024, a Premier League rompeu com a IMG para assumir internamente a operação de mídia, buscando integração vertical. A liga precisa encontrar uma nova narrativa, seja no streaming próprio, em experiências diretas com fãs ou em modelos de entretenimento corporativo, para substituir a euforia da TV paga.