Em diversas ocasiões, ocupei este espaço para elogiar o Porto do Açu e enaltecer seus avanços – parcerias firmadas com grandes empresas internacionais, novos negócios, quebra de recordes na movimentação de cargas, etc.Mas causa estranheza a forma como a direção do complexo portuário vem dando às costas a Campos dos Goytacazes, município a quem deve muito, pelos serviços que proporciona a seus colaboradores e pelos acessos logísticos que oferece – na falta de um corredor de…
Em diversas ocasiões, ocupei este espaço para elogiar o Porto do Açu e enaltecer seus avanços – parcerias firmadas com grandes empresas internacionais, novos negócios, quebra de recordes na movimentação de cargas, etc.
Mas causa estranheza a forma como a direção do complexo portuário vem dando às costas a Campos dos Goytacazes, município a quem deve muito, pelos serviços que proporciona a seus colaboradores e pelos acessos logísticos que oferece – na falta de um corredor de acesso digno, que seria, no mínimo, o razoável para um empreendimento de tal porte.
Um dos valores defendidos pelo Porto do Açu é a segurança: mitigar ou eliminar riscos operacionais a pessoas, instalações e ao meio ambiente, assegurando a integridade de todos.
Para o município de Campos, até que se prove o contrário, este valor parece uma obra de ficção. Porque é de se lamentar que, diante da paralisação das obras da Estrada dos Ceramistas – rota logística que encurta caminho entre a BR-101 e o porto – o empreendimento portuário defenda o trânsito de veículos com mais de quatro eixos pela área urbana de Campos.
O tráfego de veículos pesados por vias que não foram projetadas para este fim é ruim para todos: para os caminhoneiros, que enfrentam trajetos estreitos e arriscados; para o trânsito urbano, que já é intenso e fica ainda mais sobrecarregado; e, sobretudo, para a população, exposta a riscos constantes de acidentes — muitos dos quais, infelizmente, já registrados. Mortes por atropelamentos e carretas quebradas atravancando o trânsito se tornaram uma triste rotina em Campos.
Ao acionar a Justiça para exigir que os caminhões acima de quatro eixos voltem a circular pelas vias urbanas de Campos, o Porto do Açu rasga um de seus principais valores. Também erra de alvo, ao acionar a Prefeitura de Campos, quando deveria mirar no verdadeiro responsável pelo caos que se estabeleceu no trânsito: o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão do Governo do Estado a quem caberia a reforma da Estrada dos Ceramistas.
A Prefeitura de Campos dos Goytacazes faz a sua parte. Nos últimos anos, vem promovendo um esforço contínuo de recuperação das estradas, ruas e avenidas sob sua responsabilidade. Mas essa não é uma missão que pode ser cumprida apenas pela esfera municipal. As rodovias estaduais, sob responsabilidade do Governo do Estado, também precisam de atenção. Por este motivo, não podemos mais aceitar a omissão da atual gestão estadual em promover as obras que o setor produtivo da região necessita.
Diante de um porto que se estrutura para ser o maior do Brasil, Campos não pode ficar apenas com o ônus. O município não recebe compensações do Porto do Açu – que está instalado no município vizinho de São João da Barra, beneficiado com um valor expressivo. Mas atende aos milhares de trabalhadores do complexo com sua rede de serviços públicos, educação e saúde. E, na falta de opções de acesso ao empreendimento, recebe diariamente cerca de 700 caminhões e carretas de grande porte que utilizam a cidade como passagem. Não pode ser assim.
Diante do caos que o quadro impõe, a Justiça não é o único caminho. A verdadeira luta é a mobilização do poder público, setor produtivo e sociedade civil para que as obras necessárias e prometidas da Estrada dos Ceramistas recomecem. Quem ama Campos e defende um estado do Rio mais eficiente não pode ficar de fora desta luta.
Por : Mauro Silva